domingo, 17 de julho de 2011

5 - Guaçatonga


Casearia sylvestris SW.

Família Salicaceae
Estudos recentes em filogenia (área do conhecimento que estuda a relação evolutiva entre os grupos de organismos) indicaram que Casearia, gênero da guaçatonga, tradicionalmente reconhecido na família Flacourtiaceae, faz parte das Salicaea. A família é cosmopolita, merecendo destaque o gênero Salix, do qual foi obtido originalmente o ácido acetil salicílico, famoso analgésico. O salgueiro-chorão (Salix babylonica) é árvore cultivada no Brasil como ornamental.
Guaçatonga
Arbusto de guaçatonga florido à beira de uma estrada na zona rural do Distrito Federal. 14/10/2006
Distribuída por quase todo o Brasil, em diferentes formações vegetais, a guaçatonga é o tipo de planta que normalmente passa desapercebida ao olhar da maior parte das pessoas. Suas flores não têm a exuberância dos ipês, os frutos não são suculentos como a cagaita e a mangaba, mas é espécie de grande importância ecológica e amplamente utilizada pelas populações tradicionais em toda sua área de ocorrência.
É recomendável aos que freqüentam locais de difícil acesso e distantes dos postos de atendimento médico que procurem conhecer a guaçatonga, ela está entre as plantas nativas usadas como antiofídicas por muitos povos tradicionais, havendo fortes indícios científicos da eficácia de sua ação para tal finalidade.
Trata-se de arbusto ou arvoreta alcançando até 6m de altura em alguns locais, nativa de quase todo o Brasil, principalmente em florestas secundárias. No Cerrado é mais freqüentemente encontrada na forma de arbusto (mas ocorre como arvoretas), em diversos tipos de vegetação.
Guaçatonga
Detalhe do ramo florido da guaçatonga. Distrito Federal, 14/10/2006.
As folhas têm aparência e disposição bem características: são alternas (uma folha de cada vez se desenvolve a partir dos ramos), simples, de base assimétrica e bordos serrilhados, de 6 a 12 cm de comprimento. Flores pequenas, esbranquiçadas, reunidas na base das folhas, em inflorescências chamadas glomérulos. Os frutos, de até 0,5 cm de comprimento são globóides e possuem de 2 a 6 sementes de até 2 mm, com arilo alaranjado.
Devido às suas propriedades terapêuticas, está entre as espécies vegetais úteis à sobrevivência no Pantanal.
Casearia sylvestris
A. Detalhe das inflorescências de guaçatonga com besouro comendo suas peças florais (pétalas, estames e pistilos); B. fruto da guaçatonga em fase final de maturação. Distrito Federal, 14/10/2006.
Utilização medicinal da Guaçatonga.
Indicações
Parte usada
Preparo e dosagem
antidiarréica, anti-febril, depurativa, anti-reumática, nas afecções da pele e nas mordeduras de cobras (especialmente com peçonha proteolíticas, como jararaca e cascavel) folhas e casca do caule

decocto ou infusão:: 1 xícara de chá da folha ou casca picadas para 1 litro de água. Tomar de 3-4 xícaras de chá ao dia. No caso de mordedura de cobra, beber 5-6 xícaras ao dia, mais compressas do suco das folhas no local afetado. Observar as recomendações para estes casos (ficar calmo, não se locomover para procurar ajuda, deixando que outros o façam, entre outras recomendações)
Adaptado de Rodrigues e Carvalho 2001.
Atualmente é utilizada como adulterante de Cordia salicifolia, conhecida popularmente como porangaba, o que tem aumentado a pressão antrópica sobre a espécie.
Além de medicinal, no Paraná foi registrada como importante para suprimento de pólen apícola. Tal característica deve ser levada em consideração por apicultores e fruticultores de outras regiões onde ocorre a guaçatonga.
É polinizada por pequenos insetos e têm suas sementes dispersas por pássaros.
Por seus aspectos ecológicos, o uso da guaçatonga é altamente recomendável em projetos de recuperação de áreas degradadas e paisagísmo público ou particular.
Além de atrair uma ampla gama de insetos durante a sua floração, é considerada extremamente atrativa para os pássaros, que se alimentam de suas sementes. Segundo os ornitólogos John e Cristian Dalgas Frisch, a espécie atrai juviaras, tiês, pica-paus, suiriris, tesouras, bem-te-vis, sanhaços, sabiás, saíras, gaturamos, entre outros. Dispersor da Guaçatonga
Coleiro (Sporophila sp.) se alimentando de frutos de guaçatonga, no vale do rio São Joaquim, Chapada dos Veadeiros, GO. 26/09/2006.

 
O guia Rafael Teixeira, estudioso das plantas e aves do Cerrado, com destaque para a região da Chapada dos Veadeiros-GO, observou diversas espécies de aves se alimentando dos frutos da guaçatonga em chácara às margens do rio São Joaquim, local em franca regeneração.
Para fins de propagação, vale ressaltar que as sementes de guaçatonga apresentam maiores taxas de germinação em temperaturas constantes próximas à 25o C. Quem tem guaçatonga em casa, ou próximo, aproxime-se e observe o quanto esta espécie atrai e se relaciona com inúmeros insetos e pássaros do Cerrado, ela certamente não vai mais deixar de ser notada por você.
Referências e sugestões bibliográficas sobre Guaçatonga:
• AZEVEDO, Sheila Karla Santos de and SILVA, Inês Machline. 2006. Medical and religious plants commercialized in conventional and open-air markets of Rio de Janeiro municipality Rio de Janeiro State, Brazil. Acta Bot. Bras., Jan./Mar. 2006, vol.20, no.1, p.185-194. ISSN 0102-3306. www.scielo.br/pdf/abb/v20n1/17.pdf
• Barreto, L.M.R.C.; Funari, S.R.C.; Orsi, R.O. Pólen Apícola: perfil da produção no Brasil. www.culturaapicola.com.ar
www.culturaapicola.com.ar/apuntes/polen/14_polen_apicola_brasil.pdf
• Facanali, R. 2004. Ecologia de Populações de Espécies Prioritárias para a Conservação e Uso: um estudo de caso usando como modelo a Caseasia sylvestris SW. Monografia da disciplina Ecologia de Populações de Plantas, Programa de Pós-graduação em Ecologia, UNICAMP.
www.ib.unicamp.br/profs/fsantos/nt238/2004/Monografias/Monografia-Roselaine.pdf
• Frisch, J. D. e Frisch C. D. 2005. Aves Brasileiras e Plantas que as Atraem. 3a Edição. Dalgas Ecitec – Ecologia Técnica, São Paulo. 480p.
• GUARIM NETO, G. & MORAIS, R. G. 2003. Recursos medicinais de espécies do Cerrado de Mato Grosso: um estudo bibliográfico. Acta Bot. Bras., Oct./Dec. 2003, vol.17, no.4, p.561-584. ISSN 0102-3306. www.scielo.br/pdf/abb/v17n4/a09v17n4.pdf
• Pott, A. et al.2004. Plantas úteis à sobrevivência no Pantanal. IV Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-econômicos do Pantanal, Corumbá-MS.
www.cpap.embrapa.br/agencia/simpan/sumario/palestras/ArnildoPott.PDF
• Rodrigues, L.A. et al. Espécies Vegetais Nativas Usadas pela População Local em Luminárias-MG www.editora.ufla.br/Boletim/pdf/bol_52.pdf
• Rodrigues, V.E.G. & Rodrigues, D.A. de C. 2001. Plantas medicinais no domínio dos cerrados. Lavras: UFLA. 180p.
• Rosa, S.G.T. & Alfredo, G.I. 2001. Germinação de sementes de plantas medicinais lenhosas. Acta Botanica Brasilica, 15(2): 147-154. www.scielo.br/pdf/abb/v15n2/6819.pdf
• Sartori, M.S.; Poggiani, F.; Engel, V.L. 2003. Regeneração de vegetação arbórea nativa em povoamentos de Eucaliptus. Scientia Florestalis, n;62, p.82-103, dez. www.ipef.br/publicacoes/scientia/nr62/cap08.pdf
• Sassioto, , M.C.P. et. al. Efeito da Casearia sylvestris no reparo ósseo com matriz óssea bovina desvitalizada em ratos. Acta Cirurgica Brasilica, vol 19 (6), 638. www.scielo.br/pdf/acb/v19n6/a10v19n6.pdf
• SILVA, Luciana Álvares da e SOARES, João Juares. Levantamento fitossociológico em um fragmento de floresta estacional semidecídua, no município de São Carlos, SP. Acta Bot. Bras., abr. 2002, vol.16, no.2, p.205-216. ISSN 0102-3306. www.scielo.br/pdf/abb/v16n2/a07v16n2.pdf
• Silva Júnior, M.C. et al. 2005. 100 Árvores do Cerrado: guia de campo. Brasília, Ed. Rede de Sementes do Cerrado, 278p

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